Título original: Llamando a las puertas del cielo
Endereços: Amazon | Orelha de Livro
Gênero: literatura infantojuvenil
Páginas: 312 folhas em tom bege

"Desde que chegara, o tempo tinha deixado de contar. Já não podia medi-lo em dias e muito menos em semanas. Nem horas ou minutos. Simplesmente era tempo, uma sequência de momentos, circunstâncias, situações, às vezes agradáveis e, em sua maioria, carregadas de angústia ou tensão, pela urgência ou falta de meios. Para cada morto que ia para o esquecimento, havia dez, vinte doentes curados que pagavam com um sorriso e algumas lágrimas a volta à vida. Acomodar-se não era a palavra adequada." Trecho extraído da página 114
Acredito que mais de oitenta por cento das pessoas abandonariam uma leitura pausada há exatos três meses. Pode parecer absurdo deixar um livro descansando ligeiramente na cabeceira da cama quando ainda não se conheceu por completo o seu conteúdo, mas é fato que certas coisas na vida precisam de tempo para concretização. Aprendi isso na marra durante os doze meses passados e agradeço aos céus por não ter entendido errado o período ruim que passei longe dessas páginas, para encarar o cunho maravilhoso dessa história, que necessita de atenção e coração aberto diante de tantos ensinamentos. Também não poderia deixar de agradecer à editora, por ter oferecido a oportunidade de vislumbrar um recheio de letras e lições tão imensurável quanto esse, mesmo que em circunstâncias especiais.

Se os seus pais fossem pessoas riquíssimas, dignas de muito prestígio e poder na sociedade, sairia por vontade própria das suas asas protetoras para encarar uma viagem impactante, indo ao encontro com uma realidade totalmente diferente da sua, na qual o luxo é substituído pela miséria excessiva? Batendo à porta do céu nos apresenta a história de Sílvia, uma jovem de dezenove anos que decide sair da zona de conforto para compreender o rumo que a sua vida está tomando, enquanto presta serviços como voluntária de um hospital rural improvisado, surpreendentemente salvando a vida não unicamente de seres que estão com problemas explícitos, quanto daqueles que sequer sabiam que estavam trilhando a angustiante rota da sobrevivência, causada pela rotina imutável.


Imagino que pode ter soado esquisito a citação da rota de sobrevivência, certo? No entanto, se trata da colocação como prioridade na vida fatores que não deviam ter essa relevância, uma vez que nada poderá ser levado quando o descanso eterno chegar. Sei que parece bastante profundo, beirando ao óbvio e até filosófico, mas não consegui me expressar de outra forma; através desses personagens, o autor conduz o leitor a visualizar além da venda que anteriormente estava obscurecendo a sua visão mais naturalista e simples da vida: que o essencial é invisível aos olhos, como diria aquele príncipe pequenininho de grande coração. Há pouco li um texto que também serviu para encorpar o raciocínio passado por Jordi, que falava sobre como estamos nos inclinando para a ausência da felicidade a cada dia, pelo desejo maníaco de sempre subirmos novos degraus sem uma parada para apreciar o patamar alcançado. Faz sentido, né? De que adianta escalar a interminável muralha da China em um mês ou caminhar por todo o edifício do Taj Mahal em uma semana, se não aproveitamos cada detalhe encontrado como deveríamos? É necessário sim passar pela vida tracejando metas, porque é isso que nos move, contudo a ambição crescente só adoece a alma e transforma a simplicidade em complexidade sem um motivo realmente sólido para isso.

Por incrível que pareça, inicialmente considerei o desenrolar dos pontos trabalhados pelo autor parados demais e a ausência da narração em primeira pessoa pela protagonista me afetou, uma vez que estava sentindo um toque de surrealidade na sua personalidade. Isto é, por demonstrar um desejo enorme de sair das sombras dos pais e aparentar um altruísmo no mínimo digno de questionamentos, a primeira impressão que me causou foi a de que a história giraria em torno de uma personagem com essência forçada e mimada. Pensei mesmo que não fosse me convencer, até que com o decorrer dos acontecimentos, o amadurecimento natural dela foi se mostrando nítido e aceitável - sem mencionar todas as questões abordadas através da viagem na qual a moça embarcou. O ritmo do enredo em si também sofreu boas modificações, para a minha alegria. 


Os personagens são absolutamente reais e magníficos, embora não tenham conseguido me cativar ao nível de estreitar laços significativos. Conheci um príncipe indiano lindo chamado Mahendra, que é rico de doer e atormentado por fantasmas do passado de tal forma a perder a noção da escassez do tempo, deixando-o escorrer pelos dedos; um jovem estudante de Medicina que sofre com a falta de capital para concluir os seus estudos e feriu o coração de uma forma bastante dolorosa, chamado Leo; uma moça de língua afiada, que anseia alcançar uma identidade própria como se fosse vítima de afogamento em busca de oxigênio, chamada Sílvia. A trama apresenta muitos outros personagens, porém os que mais se destacaram na minha visão foram os citados. 

Batendo à porta do céu é o exemplo perfeito de leitura que merece ao menos uma nova análise a cada ano. É uma história que não só ultrapassa fronteiras geográficas, estonteando os leitores, como tem o poder de levá-los a diversas reflexões a respeito dos caminhos que estão trilhando ou anseiam fazê-lo. É muito mais que um livro sobre o encontro da verdadeira essência das coisas: aborda a necessidade de nos permitirmos encarar o incerto por um bem maior. De nos darmos novas chances todos os dias, para tornar possível transformações e para que a liberdade nos alcance. Amor, perdão e compreensão também estão em suas melhores formas. É muito maduro, forte, intenso, sensível e delicado para receber atenção apenas por uma única vez. Ele passa tantas mensagens - ora singelas, ora ferozes - que é impossível absorver todas em uma única dose. Podem acreditar em mim que esse é um presente divino, porque não tem como adentrar nessas páginas, donas de vida própria, sem querer retornar algum dia para recordar todas as emoções novamente.


Deu para sentir que o autor não usou apenas algumas pesquisas, coerência para organizar e interligar todos os itens que compreendem a narrativa, acesso à criatividade e muita inspiração, que são algumas das ferramentas principais para a construção de um bom livro; o homem tem talento mesmo e escreve com a alma, com o coração e com a própria essência. É assustadora a sua capacidade de retratar assuntos tão pesados - capazes de tirar o sono de qualquer pessoa com o mínimo de bom senso por momentos - de um jeito doce e repleto de desejo por um futuro melhor. 

Ah! Ia me esquecendo de um detalhe importantíssimo e talvez (com certeza) mais interessante: ao longo dessas pouco mais de trezentas páginas, o leitor acaba sendo transportado para a Índia, com passagem para retorno, mas com vontade em zero! Posso garantir que a experiência é avassaladora de todos os modos possíveis; mesmo diante da verdadeira miséria e pobreza, ignorância involuntária pela falta de recursos e violência resultante disso tudo - por certa parte da população - os costumes da cultura oriental são chocantes, quando comparados aos do ocidente! O prefácio situa super bem, histórica e geograficamente, para que ninguém caia de paraquedas.


Sobre os dados técnicos, a narrativa é feita em terceira pessoa, os capítulos são medianos e possuem marcações personalizadas - o que impede o cansaço de chegar para perto, a fonte possui um tamanho ótimo para leitura e as páginas têm uma cor em bege clarinho, impedindo uma irritação ocular mais rápida. O livro é dividido em três partes e em cada uma delas o trabalho gráfico ficou impecável, tendo a presença da indicação em português e em uma língua que acredito ser a nativa da Índia. O verso dessa marcação, que antecede ao início do capítulo, traz uma mensagem inteiramente reflexiva que serve como muleta para a parte em desenvolvimento. Outro detalhe da diagramação que gostei muito foi o local diferenciado escolhido para a numeração das páginas: na mesma direção da primeira linha do parágrafo e sucedido pelo desenho da mesma gota (olhando individualmente) da ilustração encontrada na capa.

Em uma escala de zero a cinco, devem ter percebido que este livro ganhou cinco e foi para os favoritos. Recomendo a leitura para todos, especialmente àqueles que trabalham ou desejam trabalhar na área da saúde, por conta da atmosfera na qual a história é contada e dos empecilhos que os profissionais do ramo precisarão enfrentar algum dia. Digno de palmas - e muito estudo, porque uma faculdade particular de Medicina custa o preço de órgãos no mercado negro e para conseguir vaga em uma pública é necessário dedicar-se de corpo e alma! Leiam, leiam, leiam!

Adquira um exemplar na Amazon e seja feliz!

26 Comentários

  1. Oi, Jeni!

    Parabéns pela sua resenha. Extremamente bem e escrita e com palavras floreadas na medida certa!
    Não conhecia o livro, mas fiquei encantada com a riqueza da história. É nítido, pela sua resenha, que você realmente mergulhou de cabeça nesse livro e, por mais que tenha demorado um pouco, conseguiu extrair muita coisa boa dele.
    A história parece ser muito profunda e inteligente. Sem falar na capa, que achei lindíssima!
    Adorei.

    Beijo
    - Tamires
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    1. Oi, Tamires! Muito obrigada, sua linda. De verdade!
      A história é realmente fascinante. Vale muito a pena a leitura!
      Um beijo!

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  2. Oie,
    nossa não conhecia e confesso que pela capa passaria bem longe, mas a história parece ser boa.

    bjos
    http://blog.vanessasueroz.com.br

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    1. Oi, Vanessa! Fico feliz em saber que te apresentei a obra. Ela é incrível e merece reconhecimento!
      Também fiquei um pouco assim no começo, mas sorte que li algumas coisas sobre que estavam abaixo e fiquei encantada.
      Vale a leitura! Demais!
      Um beijo!

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  3. Oi, Jeni! Tudo bem? Uau, estou encantado com esse livro e essa resenha maravilhosa. A princípio, a obra não tinha chamado a minha atenção, mas com o passar das linhas da resenha, fui percebendo que eu devia ler esse livro o mais rápido possível. Essa parece ser realmente uma obra excelente e digna de ser favoritada! :)

    Abraço

    http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Tony! Tudo ótimo e contigo?
      Também estou encantada com ele até agora. E fico muito feliz por ter gostado da resenha! Demorou pra sair, mas foi feita de coração.
      Vale muito a pena a leitura! Bem recomendada!
      Um beijo!

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  4. Amei a resenha!Deu pra ter uma ótima ideia do que é o livro. Não trabalho na área da saúde, mas fiquei super interessada e vou procurar já ler esse livro.
    A capa e diagramação parecem lindíssimas o que só me convidam para a leitura.
    Amei a resenha, amei o Blog =]
    http://gordicesliterarias.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Débora! Fico muito, muito feliz em saber que gostou e que consegui o meu objetivo: dar uma odeia do que o livro trata, sem dar spoilers e atrair atenção!
      Espero que consiga efetuar a leitura dele. Vale muito a pena!
      Concordo contigo em gênero, número e grau: a capa e a diagramação estão incríveis! As folhas em tom bege também são super confortáveis.
      Muito obrigada! Fico bem feliz. Fique à vontade!
      Um beijo!

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  5. Que linda resenha ♥ nunca pensei em lê esse livro, porém minha opinião está mudando depois de resenhas positivas sobre ele!
    http://blogmichaelvasconcelos.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Michael! Fico muito feliz em saber que gostou da resenha! O livro vale muito a pena ser lido. Recomendo bastante!
      Um beijo!

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  6. Uau! Adorei a resenha! Sensível, clara e com pontos reflexivos permeando cada pontuação. Fiquei super curiosa para ler o livro e para conferir mais cantinhos dentro desse blog lindão, Jeni. Sucesso!


    SEMQUASES.COM

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  7. Oi Jeni, não conhecia o livro e gostei bastante de sua resenha, ultimamente ta difícil achar um "bom" livro que fuja as regras das receitas que deram certo..
    Obrigada por compartilhar sua experiencia com a gente, espero poder ter a chance de lê-lo o mais rápido possível!

    XoXo

    http://www.leituraentreamigas.com.br/

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  8. Adorei a sua resenha, muito boa mesma, me deu muita vontade de ler esse livro, primeira vez aqui e adorei, ganhou uma leitora. Te convido a conhecer meu cantinho.

    Visite: http://carpediemmica.blogspot.com.br/

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  9. Olá, Jeni, tudo bem?

    Sinceramente, acredito que mesmo sem saber nadinha do contúedo deste livro, eu compraria! A capa e simplesmente fantasística e na maioria das vezes compro o livro pela capa, devo admitir que não e algo que eu tenha costume de ler, mas após ler sua resenha e entender a mensagem que o livro oferecer ao leitor e maravilhoso, com certeza eu daria uma chance ao livro, fico feliz que você não tenha desistido, por incrível que pareça isso também e uma lição, as vezes desistimos de algo tão fácil, mas se insistimos um pouco mais, olha o resultado? adorei a resenha o blog, adorei conhecer seu cantinho.

    Beijinhos

    http://resenhaatual.blogspot.com.br/

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  10. Olá! Tudo bem?
    Nossa, sua resenha ficou incrível, fiquei muito curiosa.
    O livro parece ter sido bem construído, o autor está de parabéns.
    Beeijos,
    http://masenstale.blogspot.com.br/

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  11. OI
    o livro ficou parada um bom tempo, mas ao menos te conquistou e isso é importante e legal quando o livro te transporta para o mundo dele, parece ser bem reflexivo e até real, a edição parece ser linda e não conhecia esse livro.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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  12. Oi Jeni,

    Lembro que quando eu tive a oportunidade de ler esse livro achei interessante, mas por algum motivo não li, passei pra frente. Engraçado que essa é a primeira resenha dele que leio e bateu arrependimento, devia ter dado uma chance.

    Bjs, @dnisin
    www.sejacult.com.br

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  13. Oi Jeni, tudo bem?
    Uma ótima resenha como sempre. O livro parece abordar assuntos de grande relevância e deixar boas mensagens. Eu não conhecia, e esta é a primeira vez que leio algo sobre ele.
    Mais uma excelente dica. Bjus
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  14. Olá, Jeni.
    Como não querer ler esse livro depois dessa resenha maravilhosa? Eu não conhecia ele ainda mas já quero ler. E quando você falou sobre a Índia você me ganhou de vez, eu adoro as histórias que se passam lá.

    Blog Prefácio

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  15. Oi, que bacana esse livro! Não pretendo ir pra área da saúde, mas com certeza darei uma chance pra leitura ;)
    Beijos!
    Maria - doprefacioaoepilogo.blogspot.com.br

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  16. Oi, Jeni!
    Muito difícil eu abandonar um livro, não importa quanto tempo ele ficou parado. Geralmente eu largo quando a história não me convence.
    Adorei sua resenha. Ficou muito linda e percebe-se que você gostou muito da história.
    A edição está linda também.
    Beijos
    Balaio de Babados | Participe do sorteio do livro Marianas | Porcelana - Financiamento Coletivo

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  17. Oiii, nunca tinha ouvido falar desse livro mas gostei da capa, da premissa e da sua resenha <3

    Beijos,
    Natália

    www.doprefacioaoepilogo.blogspot.com

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  18. Oii, tudo bom?
    Que resenha é essa heim? Muito bem escrita, adorei!
    É verdade que podemos nos surpreender com um livro que você tenha pausado a mais ou menos dois meses, já aconteceu muito comigo. Batendo na Porta do Céu é um livro que me chamaria a atenção não apenas pela capa (que é linda!), mas pelo título também que me lembra muito uma certa música de mesmo nome.
    E amo livros que conseguem falar de assusntos muitas vezes delicados com tanta emoção. Sério, deu para sentir o que você sentiu ao ler esse livro e isso foi uma das coisas que mais amei em sua resenha <3
    Estante de uma Fangirl

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  19. Oi Jeni!
    Não conhecia o livro, mas de cara já me interessei por causa da capa.
    A premissa me deixou bem curiosa, parece ser um livro intenso e emocionante e diferente de tudo que já li.
    Espero poder ler em breve.

    Beijos,
    Epílogos e Finais

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  20. Acredito que todo livro tem seu tempo, já passei mais de ano lendo um livro, já dei milhares de chance a mesma história. Entendo você! Acho sempre o trabalho da Biruta/Gaivota lindo, cada livro mais bem caprichado que outro e já paquerei muito "Batendo a porta do céu" pois tenho uma história de amor com a India.

    #DoQueEuLeio

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