Boa noite, gente! Hoje trago para vocês a primeira entrevista que fiz, sendo esta com a Gislene Vieira de Lima, autora de A Princesa com Olhos de Gato (clique aqui para ver a resenha) e Padaria

Gislene Vieira de Lima nasceu em 1971. Formada em Pedagogia, acabou aos poucos se voltando para sua primeira vocação, as Artes, aprendendo fotografia, computação gráfica, animação, cinema e desenho, o que culminou em uma Pós Graduação em Artes Visuais além de diversos cursos técnicos. Ávida por novas experiências e conhecimento, também se tornou uma leitora contumaz e com isso, acabou também iniciando-se como escritora amadora. A Princesa com Olhos de Gato é o seu primeiro livro publicado em 2012 pela Modo Editora, onde tentou unir um sonho à História e criar uma fábula para todas as idades, onde elementos reais da História Medieval são entremeadas em uma narrativa ágil e cheia de imaginação. Depois disso, publicou também um livro de mistério chamado Padaria que foi lançado na bienal de São Paulo.

Como descobriu que queria ser escritora?
Um dia o céu se abriu e uma voz retumbante disse fazendo os pobres mortais estremecerem: - You! Rs. Brincadeira né? A vida da gente seria bem mais fácil se nossos desejos e vontades fossem tão claros. O que eu posso dizer é que sempre gostei de criar histórias. Quando digo sempre, falo de meus relatos mais antigos, quando ainda nem era alfabetizada. Eu sempre fui assim. Criava de tudo. Desenho. Histórias. Até brincadeiras. Desconfio que os meus vizinhos me chamavam para brincar por um certo interesse, já que eu era a única capaz de criar brincadeiras divertidas utilizando dois tijolos e uma lata. Rs. Passar isso para o papel acabou sendo uma evolução natural eu acho. Primeiro escrevendo histórias incompletas. Tenho cadernos e mais cadernos repletos de coisas escritas, muitas das quais são tão desconexas que nem eu sou capaz de resgatá-las. 

O que você acha sobre esse preconceito que ainda existe com a literatura nacional?
Acho que nem é preconceito. O mercado literário brasileiro sempre foi apenas um local onde se despejam a venda certa dos estrangeiros que possuem uma máquina poderosa de divulgação não apenas na área literária quanto em outras áreas como cinema, desenho animado ou quadrinhos. No Brasil, as coisas se deram assim, em especial, porque não temos uma tradição como leitores. Perto do número de habitantes desse país de dimensões continentais, o número de pessoas que gostam de ler chega a ser uma piada quando você compara com outros países como o Japão ou a Inglaterra. Mas imagino que conforme formos caminhando lentamente rumo à descoberta de nossa própria condição enquanto brasileiros – e não digo que isso irá se dar do dia para a noite já que estou falando de uma mudança comportamental e cultural já arraigada – esse quadro deve ir se revertendo aos pouquinhos. 

De onde surgiu a ideia da história do livro A Princesa com Olhos de Gato? E a do seu outro livro, o Padaria?
A Princesa com Olhos de Gato surgiu por conta de um sonho. Na época estava lendo muitos livros com as sagas arturianas como As Brumas de Avalon e acabei sonhando com a cena do deserto de água onde se via um casal. Este casal se transformou em Abner e Loiane. Já o Padaria foi inspirado por uma série de coisas. Entre elas, algumas discussões em oficinas onde adolescentes insistiam em criar versões japonesas de histórias famosas ao invés de buscar uma criação real, dentro de sua própria realidade. Lembro-me que na época o que desencadeou essa discussão no grupo que achava que o folclore brasileiro se resumia ao que Monteiro Lobato havia deixado foi um anime chamado XXXHolic. Como nele o que temos é um comércio mágico utilizando elementos do folclore japonês, decidi fazer algo semelhante usando exclusivamente o folclore brasileiro. 

Quanto tempo levou para finalizar os seus dois livros?
Ih. Se eu falar isso você vai me achar a escritora mais lenta do mundo. A Princesa com Olhos de Gato uns 18 anos. Padaria foi menos demorado. Acho que uns 6 anos. Rs. Deixe-me explicar meu processo de escrita para não ser tachada como uma escritora tartaruga. Na verdade meu processo de escrita é muito fragmentado. Ou seja, eu escrevo muitas histórias diferentes ao mesmo tempo. Acho que isso se dá porque minha forma de criação é mais intuitiva. Não é raro acordar a noite e anotar coisas em um bloco estrategicamente colocado ao lado de minha cama. Não sou do tipo que se senta diante de uma máquina e em um mês consegue escrever toda uma história. No entanto, uma vez que a história esteja pronta, ou seja, que eu tenha toda a narrativa, eu geralmente sou capaz de me sentar por horas a fio ajeitando as palavras, corrigindo erros, verificando a fluidez da história. Esse processo acaba sendo o mais rápido. 

Você está escrevendo outro livro no momento? 
Continuando de onde parei na última pergunta. Rs. Como estou sempre escrevendo muitas histórias ao mesmo tempo fica difícil de responder a essa. Eu estou em processo de correção da continuação de A Princesa com Olhos de Gato, o livro A Terra dos Esquecidos. Uma coisa que acontece comigo é que quando a narrativa está completa com começo, meio e fim ela me apresenta logo o título. Acho que é um jeito que meu cérebro tem de ir organizando as histórias. Eu tenho trabalhado também em uma HQ chamada A espada e o escudo, em um livro chamado Efêmera e em uma história infantil chamada Tem um bicho embaixo da ponte. Dentre os que estou realmente criando e não corrigindo, está uma história de uma garota que tem os pés de louça. Não tem título pois ela ainda não passa de um monte de anotações espalhadas. Mas tem sido a história dessa garota que tem me assombrado mais nos últimos dias. 

Fiquei curiosa quanto a essa história que está criando no momento, a da garota que tem os pés de louça. Pode contar um pouquinho sobre ela?
É uma releitura de uma lenda brasileira. Pelo que consta, tivemos uma aldeia onde todos tinham os pés de louça e que se as pessoas os vissem ficavam loucas ou acontecia coisa pior, apesar desse pior não ser muito claro. Como uma das minhas linhas prediletas de criação é reapresentar o folclore brasileiro para os brasileiros de agora, estou trabalhando nesta história. Mas não posso contar muito.

Quais são os seus autores favoritos?
Eita que eu sempre tremo na base quando me fazem essa pergunta! São tantos autores que dava pra passar o dia aqui escrevendo. Vou restringir isso aos cinco primeiros que me vierem à mente. Hum... Anne Ricce, Stephen King, Pearl Buck, James Clavel e Neil Gaiman. É, nenhum nacional. Acho que mesmo eu estou dentro desse processo mercadológico, apesar de não ficar procurando saber dos autores quando compro meus livros. É mais uma questão de ver a capa, o enunciado, ler algumas páginas... um flerte descompromissado. Então vou agora falar de cinco nacionais para ficar tudo equilibrado. Érico Veríssimo, José Saramago, Millôr Fernandes, Drauzio Varella e o tio Machado de Assis. 

Qual gênero literário você mais gosta? Por quê?
Os leitores de longa data como eu talvez possam entender melhor quando digo que meu gênero literário tem se expandido em fases que vão ampliando cada vez mais o leque e tornando leituras que antes eram impossíveis em coisas prazerosas. Se no alto dos meus dezessete anos alguém me dissesse que eu iria aprender a apreciar, por exemplo, as obras do Machado de Assis, eu iria dizer que o sujeito tinha um parafuso a menos. Eu comecei minha carreira de leitora nas HQs norte americanas. Passei pelos contos de fadas clássicos e também pelos contos de mil e uma noites. Depois descobri os romances água com açúcar. Minha primeira paixão foram os romances policiais de Conan Doyle. Li tudo o que traduziram dele, ou ao menos tentei. Dele passei para Agatha Christie. Depois descobri Edgar Alan Poe e me apaixonei pelo gênero de terror. De Poe pulei para Stephen King e dele acabei entrando no mundo vampiresco de Anne Ricce. Malba Tahan me resgatou de volta para os autores brasileiros. Também tive uma volta aos quadrinhos com o surgimento dos mangás traduzidos no Brasil. Ficção e Fantasia descobri com Julio Verne. E os romances históricos e culturais, especialmente os de culturas exóticas como a asiática, descobri através de James Clavel e Pearl Buck. Depois passei pelos clássicos e filosóficos. Hoje em dia eu costumo dizer que gosto de uma boa escrita e não de um gênero. Se a história é boa pode ser infantil, juvenil ou clássica. 

Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou para ter suas obras publicadas?
A minha dificuldade é a de todos os autores nacionais. Não temos um mercado interno literário, então acabamos tendo de competir com as obras que vem de fora e que contam com um investimento de divulgação e distribuição muito maior do que as editoras brasileiras conseguem comportar. Mas eu estou mais otimista agora que vejo tantas editoras nacionais aparecendo. E também porque a internet está se consolidando enquanto poderosa ferramenta de divulgação. 

Fale um pouco sobre o seu livro Padaria.
O Padaria conta a história de um universitário que veio do interior para estudar em São Paulo e ao procurar um emprego acaba descobrindo essa Padaria. Tudo estaria bem se este lugar não fosse, aos poucos, se apresentando como um palco onde as coisas mais bizarras, misteriosas e estranhas começam a acontecer. Resta saber como é que Beto, o personagem principal, vai lidar com isso e qual a mudança que essa Padaria toda especial irá trazer para a sua vida. 

Obrigada por ter concedido essa entrevista exclusiva ao blog. Te desejo todo o sucesso em sua carreira de escritora!
Eu que agradeço pela oportunidade de poder apresentar um pouco do meu trabalho para vocês. Afinal, é graças aos blogs e aos seus leitores que estamos vivenciando uma mudança que tem sido muito importante para o fortalecimento da literatura nacional. Felicidades!

11 Comentários

  1. Oi, gostei da entrevista e do título de um dos livros: A Padaria...muito original.
    http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br/

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  2. Gostei da entrevista Jeni. As respostas da Gislene foram bem objetivas e fiquei encantada quando ela disse que a série As Brumas de Avalon, da Marion Zimmer Bradley, foi uma de suas inspirações para escrever A Princesa com Olhos de Gato. Sou apaixonada por essa série, sendo ela uma das minhas favoritas! Beijo!

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  3. Adorei a entrevista! Ela é bem divertida, e boa de títulos - uma caracteristica que gostaria de ter hah

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  4. Oie amiga..Gostei muito da entrevista.
    Parabéns pelo post.
    Beijos

    Jéssica
    http://leitorasempre.blogspot.com.br/

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  5. Muito legal a entrevista. Achei legal da parte dela falar que não acha que é preconceito no brasil com autores brasileiros, eu também penso assim, não tenho nenhum preconceito, só acho os livros um piuco caros pro meu bolso.

    http://blogprefacio.blogspot.com.br/

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  6. Eu terminei de ler o livro da Gislene ontem e gostei demais do trabalho dela, espero ter oportunidade de ler outros. A entrevista não poderia ter vindo em melhor hora.

    Bjos!!
    Cida
    Moonlight Books

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  7. Opa!! Gostei muito da entrevista com a autora e poder conhecer um pouquinho mais sobre a mesma. A parte que mais curti foi a que ela falou sobre os autores preferidos.
    Beijos!
    Paloma Viricio- Jornalismo na Alma

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  8. A primeira entrevista a gente nunca esquece kkkkkk Sobre a entrevista, e as respostas, me identifiquei com algumas situações da autora, como a "lentidão" em escrever um livro e também em criar histórias nas brincadeiras infantis. Mas, ao contrário da autora, acho que as pessoas não tinham nenhum interesse, porque elas sempre dispensavam minhas histórias kkkkkkkkk De qualquer forma, eu sempre estava inventando certas coisas :x
    Não conhecia nada da autora, mas acho sempre muito bom essas entrevistas, justamente por dar a oportunidade de conhecermos melhor certas pessoas, às vezes “pessoas tão semelhantes”. Gostei muito de suas perguntas, e acho importante o que a autora comentou sobre o nosso mercado editorial, pois também acredito que tudo vai mudar apenas quando tivermos o hábito da leitura.

    Beijos!
    Ricardo – www.blogovershock.com.br

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  9. Oi Jeni
    Que entrevista legal, gostei muito!
    Beijinhos
    Renata
    Escuta Essa
    http://www.facebook.com/BlogEscutaEssa
    @blogescutaessa

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  10. Gostei da entrevista... ri muito quando ela falou:
    '' Um dia o céu se abriu e uma voz retumbante disse fazendo os pobres mortais estremecerem: - You! Rs.''
    Seria um sonho se isto acontecesse ein!?
    KKKK'
    A autora é super simpática. Beijos

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  11. Olha, legal, uma entrevista com a autora do livro que tinha lido resenha no seu blog a umas semanas atras... Gostei das suas perguntas e das respostas. Me interessei muito por Padaria...

    Abraços
    www.entrepaginasdelivros.com/

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